29 de janeiro de 2012

Casas pequenas no Brasil


Casas pequenas no Brasil
Casas pequenas no Brasil
 
O Censo 2010 do IBGE revela que 87% dos brasileiros vivem em casas, num total de cerca de 50 milhões de unidades desse tipo no país. Quase a metade delas está na região Sudeste, vindo o Nordeste em segundo lugar.

É ainda pequena, então, a porcentagem de moradias em apartamentos (10%), e a tão sonhada vida silenciosa nas vilas urbanas é realidade para apenas 1,7% das habitações.

Já a situação quase sempre desconfortável ou insalubre de morar em cômodos ou cortiços aflige 0,3% dos nossos lares.

O acesso à energia elétrica é praticamente generalizado (97%) no país, mas o abastecimento de água tem desempenho pior, com 82,5% das residências atendidas pelo sistema (54,4% na região Norte, 76,5% no Nordeste, 90% no Sudeste, 85% no Sul e 81% no Centro-Oeste), enquanto 97,3% delas têm algum tipo de esgotamento sanitário, seja em rede ou por fossa séptica.

São índices praticamente constantes, comparativamente, em todas as regiões e que demonstram certo grau de desenvolvimento urbano.

Quanto ao morador, a faixa entre dois e quatro habitantes em convívio representa a maioria esmagadora: 68% dos lares brasileiros.

Já as habitações para uma pessoa apenas sinalizam 12%, e, no extremo oposto, as super-habitações, com oito indivíduos ou mais, surgem como exceção absoluta: 2% dos casos levantados pelo IBGE.

Nesse sentido, as maiores flutuações ocorrem na passagem daquele habitante solitário para os arranjos de dois a quatro moradores por unidade e destes para as casas que abrigam cinco pessoas ou mais.

Praticamente dobra e cai pela metade, respectivamente, a cifra em cada uma dessas transições. Falemos, então, de contrastes.
Esta reportagem especial sobre casas pequenas, no Brasil e no Japão, mostra realidades distintas não apenas entre dois continentes culturalmente tão diversos, mas também na própria prática profissional em solo brasileiro.

Há quem direcione sua atuação para a criação de residências paradisíacas, na praia, no campo ou na cidade, que chegam a mil e tantos metros quadrados de área construída, mas poucos se dedicam com afinco à tarefa de exercitar o projeto da pequena morada.

Selecionamos três casos paradigmáticos dessa escala do Brasil: a residência do arquiteto, em vila; a do designer, na beira de um parque urbano; e a moradia periférica. Francisco Spadoni, Emerson Vidigal e Marcelo Rosenbaum são os autores dessas residências.

Já quando o tema é o morar japonês, uma das principais características de suas cidades é a falta de espaço. Em um país com densidade de 337 habitantes por quilômetro quadrado a disputa por terreno é, de fato, uma questão sempre presente, sobretudo nas áreas urbanas.

Mas existem outras marcas das metrópoles japonesas que, curiosamente, se assemelham às das grandes cidades brasileiras, sobretudo nas regiões periféricas: ruas estreitas, malha viária sem eixos principais, rede elétrica aparente, pouco verde e lotes sem padrão de tamanho e desenho, por exemplo.

No caso do Japão, a explicação para esses atributos talvez esteja, além do excesso de habitantes, no relevo acidentado e nas restrições causadas pela possibilidade de terremotos.

No Brasil, a justificativa pode ser mais resumida: é a falta de planejamento urbano. Mas dentro desse quadro de aparente caos, tão semelhante ao das periferias brasileiras, os arquitetos japoneses dão uma lição de como aproveitar espaços exíguos com criatividade e engenhosidade.
 

Emerson Vidigal - Junto ao parque, Curitiba
 
Restrições legais e ambientais reduziram consideravelmente a área disponível para a construção desta moradia. A demanda principal do morador - a integração visual com o entorno do parque Tanguá - foi contemplada pela generosa varanda no pavimento superior.
 
Um volume ortogonal de dois andares faz a setorização entre os limites interno e externo da casa, que utiliza elementos tradicionais da arquitetura residencial de Curitiba
 
Um volume ortogonal de dois andares faz a setorização entre os limites interno e externo da casa, que utiliza elementos tradicionais da arquitetura residencial de Curitiba
Dividido entre o ensino da arquitetura e a participação em concursos, o arquiteto Emerson Vidigal, de Curitiba, é o autor do projeto desta residência, localizada nas proximidades de um dos parques urbanos da capital paranaense, o Tanguá.
Ela foi idealizada para um designer que tinha como demanda principal a máxima interação visual com o entorno, sendo, de fato, privilegiada a paisagem circundante. Avista-se, desde a varanda íntima do andar superior, o pôr do sol e boa parte do parque, implantado sobre uma antiga pedreira.
Embora o terreno não tenha nada de pequeno - 490 metros quadrados -, o caráter restritivo do projeto fica por conta da existência, no lote, de uma nascente de rio, cujo raio de proteção de 50 metros, em conjunto com o recuo frontal de cinco metros, minimizou a área disponível para a construção.
Assim a residência, com 95 metros quadrados de área, se desenvolve em dois pavimentos, nos quais se destacam a integração total dos ambientes sociais, no térreo, e a generosa varanda ligada ao dormitório do andar superior.

A estrutura de concreto tem vedação de alvenaria convencional na ala íntima, mas na social foi usada tábua com colocação do tipo mata-junta, em referência à tradicional arquitetura residencial da região.
Emerson Vidigal Emerson Vidigal formou-se em 2002 pela UFPR, onde leciona na cadeira de projeto. Vencedor do concurso arquitetônico para a criação da nova sede do Fecomércio RS, acaba de retomar as atividades de seu escritório para desenvolver esse projeto
 
A vista posterior se abre para a paisagem natural do entorno, com destaque para o parque Tanguá
A vista posterior se abre para a paisagem natural do entorno, com destaque para o parque Tanguá
 
Corte AA 
Corte AA
Plantas
1. Serviços / 2. Cozinha e refeições / 3. Estar / 4. Churrasqueira
Plantas
1. Dormitório / 2. Escritório / 3. Terraço

 
Francisco Spadoni - Casa própria, São Paulo
A casa de vila habitada pelo arquiteto foi reformada, ganhando espaço interno, com o deslocamento de uma parede de concreto, e maior integração entre os ambientes, o que dá sensação de amplitude. Nos fundos do lote surgiram uma biblioteca e mais um dormitório.
 
A residência está localizada numa vila do bairro do Sumaré, em São Paulo
 
A residência está localizada numa vila do bairro do Sumaré, em São Paulo
A produção residencial é exceção na obra de Francisco Spadoni. Este projeto, contudo, trata da reforma da morada do arquiteto, completamente reformulada após mais de uma década já habitando o local. Restaram as lajes e alguns trechos de paredes da casa, que, localizada no bairro do Sumaré, em São Paulo, ganhou espaço interno dado o seu alargamento lateral.
Junto à divisa esquerda, a parede de vedação foi substituída por viga metálica e seus engates na estrutura existente, complementando o sistema a nova parede, deslocada, de concreto aparente.
Projeto e obra andaram quase que simultaneamente em função da necessária prospecção, in loco, das potencialidades estruturais da residência, de modo que cada nova abertura tenha sido desenhada individualmente, caso a caso.

 
Os fundos da edificação ganharam nova edícula, de dois pavimentos, que abriga no térreo um escritório/biblioteca
 
O pátio que setoriza casa e edícula é pontuado por jardim. Ele garante a generosa iluminação natural dos interiores
O pátio que setoriza casa e edícula é pontuado por jardim. Ele garante a generosa iluminação natural dos interiores
 
Com os novos vãos, então, a transição direta otimizou a iluminação natural e a mútua visualização entre todos os setores sociais, o que faz a casa parecer muito maior do que é na realidade.
Na reforma, o arquiteto criou ainda um escritório/biblioteca nos fundos do lote, sobre o qual se localizam, no segundo pavimento e na cobertura, o dormitório do filho e um terraço para o desfrute da vista da cidade.


Francisco Spadoni Francisco Spadoni é formado na FAU/Puccamp, com pós-graduação pela École d’Architecture de Paris Villenium e doutorado pela USP
 
 
A casa cresceu em largura, implantando-se a cozinha e uma extensão da sala na lateral esquerda do lote, delimitada pela nova parede de concreto
Corte AA
Corte AA
Plantas
1. Dormitório / 2. Estar / 3. Passarela
Plantas
1. Jardim / 2. Estar / 3. Jantar / 4. Cozinha / 5. Escritório / 6. Área de serviço

 
Rosenbaum® - Lar e bar, São Paulo
Cores claras e interiores abundantemente iluminados são a marca da residência reconstruída este ano. Um corredor lateral define os limites entre a moradia e um pequeno comércio que funciona integrado a ela, implantados em lote com menos de cinco metros de largura.
O terreno, estreito e comprido, foi aproveitado em toda a extensão e quase toda a largura
 
O terreno, estreito e comprido, foi aproveitado em toda a extensão e quase toda a largura
Há seis anos projetando reformas ou reconstruções de casas em áreas carentes do Brasil para o programa de tevê Lar, Doce Lar, da Rede Globo, Marcelo Rosenbaum tem desenvolvido um impressionante exercício de concepção de moradias populares brasileiras.
Por vezes a questão é multifuncional - residência e um pequeno comércio ou serviço acoplados podem fazer a diferença na vida das pessoas -, por vezes o problema é mais primário.
Faltam as mínimas condições de higiene e conforto ambiental, com cômodos de longa permanência desprovidos de janelas ou dormitórios extrapolando a lotação mínima recomendável, além de instalações precárias e problemas infraestruturais ou de acessibilidade.
Nesta casa, reconstruída em 2011 no bairro do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, foram ambas as abordagens. Os pouco menos de cinco metros de largura do lote deram lugar à casa com pequeno comércio, ocorrendo a transição entre os domínios público e privado através do corredor lateral direito.
O pergolado frontal serve ao atendimento do público numa espécie de bar de pequena escala, ambientado pela horta caseira acondicionada em garrafas plásticas.

Desníveis sequenciais fazem a transição da cota pública com os fundos do terreno em aclive. O corredor lateral foi utilizado como horta vertical
Desníveis sequenciais fazem a transição da cota pública com os fundos do terreno em aclive. O corredor lateral foi utilizado como horta vertical
 
A melhoria da luminosidade natural é um dos objetivos recorrentes nos projetos de requalificação conduzidos por Rosenbaum
 
A melhoria da luminosidade natural é um dos objetivos recorrentes nos projetos de requalificação conduzidos por Rosenbaum
Referência direta à melhora da moradia, prevalecem as cores claras e a luminosidade generosa dos interiores.

Textos de Evelise Grunow
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 381 Novembro de 2011


Marcelo Rosenbaum Rosenbaum® é um escritório de design e inovação comandado por Marcelo Rosenbaum. Atuante nos campos da arquitetura e do design, tem como foco o morar e suas formas de conexão, identidade cultural, cultura popular, memória e inclusão 

O revestimento cerâmico foi adotado na totalidade das superfícies
O revestimento cerâmico foi adotado na totalidade das superfícies
Planta baixa
1. Cozinha / 2. Estar / 3. Corredor / 4. Dormitório / 5. Lavanderia / 6. Horta vertical, com garrafas PET

Um comentário:

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