Carlos Etchichury | carlos.etchichury@zerohora.com.br
O almoço é marcado pela excitação naquela sexta-feira. Na cozinha dos funcionários, em meio a garfadas de feijão com arroz, o comandante-geral do Presídio Central, tenente-coronel Eden Moraes, avisa:
— Hoje vocês vão conhecer o pior pavilhão. Preparem-se.
Desde que Brzuska definiu o que viu no pavilhão C como um misto de “África, em guerra civil, e Afeganistão”, aquele prédio virou símbolo da decadência do Central.
Às 15h, Bortolotto, escoltado por dois seguranças à paisana e uma dezena de PMs armados até os dentes, caminha em direção ao pavilhão C. Na medida em que se aproxima, o cheiro de suor, fezes e urina torna o ambiente (quase) insuportável. Incapaz de receber todo o esgoto cloacal, as tubulações transbordam, invadem o pátio e ocupam parte da quadra de esportes dos presos. Enjôo e ânsia de vômito são inevitáveis.
Dentro do pavilhão, três lances de escada ligam o térreo à terceira galeria.
— Lá dentro, não toquem em nada e evitem ficar dentro das celas – recomenda um policial.
Fios desencapados, eventuais armadilhas e os riscos oferecidos por um ambiente infectado pela tuberculose são alguns dos desafios impostos a quem conhece o pavilhão C.
Ao entrar, percebe-se que as definições do juiz Brzuska são precisas.
Há um corredor sombrio de 56 metros de comprimento, com três metros de largura, intercalado por 44 celas sem grades. Como numa jaula gigante, apenados ficam soltos dentro da enorme galeria – a única cujas celas não podem ser fechadas à noite.
Todas as paredes estão parcialmente destruídas. Ferros, arrancados das vigas, são transformados em estoques e trabucos (revólveres ou pistolas artesanais). Algumas celas, submetidas a reformas toscas e improvisadas, foram interligadas. Presos adaptam-se ao meio. Como não há espaço para todos, alguns dormem em redes ou embaixo das camas. Para acomodar os que têm estatura elevada, buracos foram feitos a fim de que suas pernas invadam o corredor. Sem armários ou prateleiras, penduram seus pertences em sacolas plásticas penduradas nas paredes das celas e do corredor.
A maioria dos colchões tem, no máximo, cinco centímetros de altura. Momentos de privacidade são garantidos com o uso de cobertores transformados em cortina. O piso é pegajoso e úmido. Nos banheiros, imundos, as privadas transbordam. Canos, transformados em chuveiro, pingam sem parar. A visita ao pavilhão C demora 25 minutos – tempo suficiente para constatar as violações impostas pelo Estado aos condenados. É o ponto final de uma expedição de 40 horas ao inferno até então desconhecido dos gaúchos.
ZERO HORA
Não precisa ser muito inteligente pra saber que, NINGUÉM, absolutamente ninguém que passe mais de 24h dentro de uma lata de lixo dessas possa um dia se reSOCIALIZAR! Aí você vai me dizer: "mas o lugar dessa gente é aí mesmo"
ResponderExcluirBeleza...até que as nossas leis não permitissem que essas pessoas fossem literalmente jogadas nas ruas novamente!! Progressão de pena, indulto de Páscoa, Natal, dia dos pais e por aí a fora. Periodicamente eles deixam uma frestinha nos portões desses presídios, para que alguns dêem uma voltinha e desafoguem um pouco a situação.A instituição família está falindo, então mandam seus filhos às escolas falidas, que não dão conta do recado e jogam estas crianças nas ruas! Lá, o traficante ou o corrupto arrumadinho adota (mas não protege)É óbvio que a criatura se ferra e cai neste depósito. Que tipo de pessoa teremos circulando a nossa volta amanhã, hoje, agora? Olhe para os lados!! Os malucos e criminosos estão tomando café ao nosso lado no boteco!! Brasil! ME MATA DE ORGULHO!!!!