7 de julho de 2010

Educação na rua, na escola, na empresa.


Sustentabilidade
Educação: na rua, na escola, na empresa

O processo de sustentabilidade passa, invariavelmente, pela educação já que é necessário capacitar cada vez mais pessoas e organizações para responderem e agirem de forma consciente diante dos desafios atuais.
A maioria das empresas, independendo do seu tamanho, ramo de atividade ou perfil empresarial, se mostra perdida no estabelecimento de metas e projetos em sustentabilidade que tragam valor agregado e resultados para o seu core-business.
O fato é que (e não é culpa de ninguém) muitas das empresas não possuem uma equipe apta para lidar com essas novas demandas do mercado e da sociedade.
É muito comum encontrar funcionários com pouco conhecimento, experiência e motivação para lidar com as questões ligadas à sustentabilidade.

Pode-se dizer que acontece como na época em que conhecimentos informáticos eram raridade no mercado. Havia muitas demandas e ferramentas, mas poucas pessoas aptas para atendê-las. Até que, aos poucos, com informação, formação e treinamentos, as empresas, as famílias, as escolas e a sociedade, finalmente incorporaram a necessidade e as habilidades nesta área e elas passaram a fazer parte de seu dia-dia.

É assim que Maria Tavares, coordenadora de projetos da Práxis Consultoria Socioambiental, apresenta o trabalho com as questões ligadas à sustentabilidade. Um processo de transformação contínuo, apoiado na educação, que dará luz a uma sociedade construída sob esse novo paradigma.
Em entrevista exclusiva ao Agenda Sustentável, Tavares conta a importância dos processos educativos para tornar a sustentabilidade realidade, mostrando que não há fórmula exata, mas que promover a mudança é possível.

Veja a seguir:
Agenda Sustentável: Como você define educação para a sustentabilidade?
Maria Tavares: É um processo dinâmico de disseminação de informações, construção de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades que facilita que os diversos públicos reflitam sobre seus princípios e implementem práticas para um futuro sustentável a partir da transformação do presente, do dia-a-dia.
Seja em casa, na escola, na universidade ou no trabalho, sua proposta é empoderar pessoas e organizações para responderem e agirem de forma consciente diante dos desafios vividos nos dias de hoje, assim como permitir a difusão das boas práticas existentes.
Ela atua não só na sensibilização da população em geral, mas também na formação de lideranças em sustentabilidade.

AS: Então ela não está restrita à educação formal?
MT: Os sistemas formais de ensino têm um papel muito importante, mas não são os únicos responsáveis pela promoção da educação para a sustentabilidade. Para que ela faça parte da vida e da tomada de decisões das pessoas, é imprescindível que a educação formal seja trabalhada em conjunto com a educação não formal, realizada por ONGs, centros de educação e cultura e até mesmo por empresas, assim como o ensino informal, a partir da TV, do rádio, dos jornais, dos espaços de lazer, dentre outros. Este desafio requer uma atuação coordenada do governo, empresas e sociedade civil.

AS: E como ela se aplica aos negócios?
MT: As empresas têm uma ampla rede de relacionamentos, capacidade de interferência no meio natural, econômico e social e, portanto, tem um papel fundamental na construção de um mundo mais sustentável. E não há dúvidas de que a educação é uma ferramenta essencial para viabilizar este processo. Seja de forma diretamente relacionada ao negócio, seja para promover mudanças de atitudes, existem muitas experiências atualmente sendo desenvolvidas nas empresas.
Afinal, como uma empresa pode ter práticas sustentáveis se seus funcionários não entendem o que isso significa?

Como disseminar as boas práticas e promover o tema entre os fornecedores?
Como criar produtos mais eficientes, com menor impacto ambiental, que ofereçam mais benefícios ao consumidor, à sociedade e que tragam retorno para a empresa?
Como mobilizar mais pessoas para repensarem suas práticas cotidianas rumo à sustentabilidade?
Estes são só alguns exemplos em que as respostas encontradas pelas empresas devem passar pela educação para a sustentabilidade.

Este caminho pode ser trilhado nos processos internos de capacitação, via apoio a cursos externos de formação relacionados a sustentabilidade, nas ações de voluntariado, na relação com fornecedores, em ações e projetos com comunidades e até mesmo na relação com clientes e consumidores. Existem empresas que tem inclusive utilizado suas campanhas de comunicação, para mobilizar e sensibilizar mais pessoas para a causa.
Afinal, é preciso que as pessoas compreendam a proposta e os desafios da sustentabilidade, quais responsabilidades estão inseridas neste contexto e sintam-se de fato mobilizadas para a ação.

AS: E quais os desafios você destaca?
MT: Acredito que os principais desafios para as empresas sejam a continuidade das práticas de educação para a sustentabilidade no médio e longo prazo e a integração das mesmas de forma transversal às atividades do negócio.
Muitas empresas realizam ações pontuais de educação para sustentabilidade, ligadas à implantação de processos de responsabilidade social, a normas relacionadas à área ambiental ou a projetos comunitários, por exemplo, e, passado o período de implantação, análise de resultados ou auditoria, deixam de lado não apenas o projeto, mas também o conhecimento construído. A evolução das experiências exige a continuidade dos processos formativos e das trocas de experiências.
Além disso, em alguns casos a educação pode ser vista como uma proposta da área de Recursos Humanos ou da área de Responsabilidade Social, quando na verdade deve estar relacionada às atividades de todos os setores da organização. Um mundo em constante transformação exige a continuidade nos processos de formação para que as atitudes e práticas acompanhem e respondam às mudanças.

Em grande parte, tais desafios se devem à dificuldade de ter indicadores que permitam inferir o impacto dos trabalhos de educação para sustentabilidade para a empresa, funcionários, sociedade e ambiente, já que, quando se trata de mudança de atitude e de processos, falamos de uma proposta de longo prazo num mundo imediatista onde tais mudanças manifestam-se nos mais variados contextos, sendo portanto mais difíceis de serem mensuradas.

AS: Quais as diretrizes para implantação da educação para sustentabilidade em uma empresa?
MT: Não existe receita para implantação da educação para sustentabilidade na empresa ou em qualquer outra organização, pois sua proposta é implantar processos, programas e projetos que sejam relevantes e atendam a cada realidade e público.

É essencial que este trabalho esteja alinhado à missão, visão e práticas da empresa para que o trabalho tenha um efeito transformador. As contradições criam descrença e barreiras ao processo. Além da realidade específica de cada empresa, o local e região onde ela se encontra, as questões sociais, ambientais e econômicas, as possibilidades de gerar parcerias, dentre outras questões compõem um pano de fundo importante para o desenho de programas ou ações de educação para sustentabilidade.

Por fim, o capítulo 36 da Agenda 21 Global e as orientações da Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável estabelecida pela Resolução 57/254 também podem ser analisados e contribuir para a implantação da educação para sustentabilidade na empresa.

AS: Qual a importância da educação para sustentabilidade diante de tantos desafios sociais, ambientais e econômicos?
MT: Temos visto muitas projeções pessimistas em relação ao futuro e acredito que a educação para sustentabilidade tem o papel de atuar de forma esclarecedora, apresentando não apenas os desafios e os pontos críticos trazidos nos inúmeros estudos e debates que acontecem nos níveis local e global, mas também quais as alternativas de garantir uma vida mais saudável e digna, o que pode ser construído, o ser criativo diante das adversidades, como aprender com os ecossistemas, o que podemos reinventar do ponto de vista prático hoje e o que projetar para o futuro.
Existe uma clara necessidade de despertar as pessoas e motivá-las a agir no plano individual e coletivo e a educação para a sustentabilidade é uma ferramenta que ajuda a tornar estas propostas em realidade.

Maria de Souza O. Tavares é coordenadora de projetos da Práxis, gestora ambiental (SENAC/SP), especialista em Educação Ambiental (FSP/USP) e Educação para Sustentabilidade (WWF/UK). Atualmente cursa MBA em Gestão da Sustentabilidade (FGV/SP).

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