9 de abril de 2009

Entrevista com Daniel Goleman (Inteligência emocional)


Entrevista com Daniel Goleman


(CEDIDO PELA EDITORA OBJETIVA)

Daniel Goleman, Ph.D., é o presidente do Emotional Intelligence Services (empresa de consultoria), em Sudbury, Massachusetts. Ao longo de 12 anos, escreveu sobre psicologia e ciências do cérebro para The New York Times. Editor da revista Psychology Today por nove anos, lecionou em Harvard (onde recebeu seu doutorado). Além de Inteligência Emocional, publicado pelo Brasil pela Editora Objetiva, entre seus livros anteriores estão Vital Lies, Simple Truths (Mentiras Vitais, Verdades Simples), The Meditative Mind (A Mente Meditativa) e, como co-autor, The Creative Spirit (O Espírito Criativo).

O conceito está transformando a área de consultoria comportamental no meio empresarial, mas as opiniões divergem. Alguns afirmam que a tese sobre a Inteligência Emocional revoluciona o comportamento pessoal, social e profissional. Outros acreditam que não passa de mais um modismo, assim como foi a Reengenharia. Há, ainda, aqueles que garantem que o psicólogo, PhD pela Universidade de Harvard, Daniel Goleman não publicou nenhuma novidade e simplesmente resumiu nas 375 páginas de seu best-seller experiências aplicadas há algumas décadas.

O fato é que o livro "Inteligência Emocional", lançado no Brasil pela Editora Objetiva, provocou amplas discussões e está reunindo muitos discípulos. O conceito de que QI não garante sucesso, não é hereditário e que o autocontrole sobre as emoções faz a diferença entre crescer ou estagnar na vida vem de encontro às incertezas pelas quais passa o profissional deste fim de milênio. A velocidade das transformações está provocando uma verdadeira convulsão de dúvidas e atitudes nem sempre bem sucedidas. Nesta entrevista, Goleman explica o que, afinal, é inteligência emocional, sua importância na vida das pessoas e das empresas e como desenvolvê-la de forma a maximizar todo o potencial latente ao ser humano.

SER HUMANO - O lançamento do livro "Inteligência Emocional" provoca polêmica e grandes discussões em todo o mundo. No caso específico de Recursos Humanos, a sua tese tem inspirado a tantos consultores a elaborar programas de qualidade emocional dentro das empresas. Como o senhor vê esse tipo de abordagem e que benefícios ela pode trazer ao ambiente de trabalho?

DANIEL GOLEMAN - Fiquei orgulhoso em ver a repercussão do meu livro no Brasil no qual procurei enfocar a comunidade por meio dos níveis de inteligência emocional em uma empresa. Há meios para se desenvolver o QE dos funcionários: fotos e publicações motivam a performance gradativa nos termos de promover qualificações, treinar pessoal, improvisar nas áreas em que atuam e possam fortalecer suas atitudes. Talvez o mais importante seja direcionar tais ações para os altos líderes das empresas desenvolverem seu QE. Dessa forma, as pessoas notarão que essas qualidades são valiosas para a cultura das organizações. Promover altos níveis de qualidade por meio da inteligência emocional é mais do que necessário em dias de instabilidade e para formação de hierarquias horizontais e equipes de trabalho.

SER HUMANO – Existe uma maneira de explicar, em poucas linhas, o que é inteligência emocional e qual a sua diferença com a inteligência dita racional?

GOLEMAN – A inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e com as das pessoas ao seu redor. Isto implica autoconsciência, motivação, persistência, empatia e entendimento e características sociais como persuasão, cooperação, negociações e liderança. Esta é uma maneira alternativa de ser esperto, não em termos de QI, mas em termos de qualidades humanas do coração.

SER HUMANO – Os altos investimentos dirigidos às pesquisas genéticas para a formação de um super-homem, baseada nos melhores genes paternos, estão sendo desperdiçados, já que o senhor afirma que a inteligência não é hereditária?

GOLEMAN – Inteligência emocional não é genética: estas habilidades são aprendidas mais do que inseridas. De certa forma, podemos dizer que possuímos duas mentes, consequentemente, dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nossa performance na vida é determinada não apenas pelo QI, mas principalmente pela inteligência emocional. Na verdade, o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência emocional – ambos são parceiros integrais na vida mental. Quando esses parceiros interagem bem, a inteligência emocional aumenta – e também a capacidade intelectual. Isso derruba o mito de que devemos sobrepor a razão à emoção, mas ao contrário, devemos buscar um equilíbrio entre ambas.

SER HUMANO – Que aspectos envolvem a busca desse equilíbrio?

GOLEMAN – Conseguir esse objetivo implica, primeiro, entender com exatidão o que significa usar inteligentemente a emoção. A formação acadêmica não oferece praticamente nenhum preparo para as tempestades ou oportunidades que a vida impõe. Apesar de um alto QI não ser garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade, nossas escolas e cultura concentram-se na capacidade acadêmica, ignorando o desenvolvimento da inteligência emocional. As emoções são um campo com o qual podemos lidar, da mesma forma como matemática ou física, com maior ou menor talento, e exige seu conjunto exclusivo de aptidões. Essas aptidões são decisivas para a compreensão do porquê um indivíduo prospera na vida, enquanto outro, de igual capacidade intelectual, não passa da estaca zero.

SER HUMANO – De que maneira uma pessoa pode desenvolver a sua inteligência emocional para melhorar o seu desempenho em todas as áreas de sua vida?

GOLEMAN – A inteligência emocional pode ser alcançada por meio de treino e esforço, mas isso requer persistência. As pessoas têm de identificar exatamente o que querem alcançar – sendo um melhor ouvinte ou controlando seu temperamento nervoso. Então deve se tornar diligente a ponto de identificar mais situações nas quais costuma cair em velhos hábitos e associá-las a uma reação produtiva. Ao realizar esse tipo de exercício analítico firmamente por algumas semanas ou meses, a pessoa poderá substituir os hábitos que deseja eliminar por outros que acabam se tornando automáticos.

SER HUMANO – E, especificamente, de que forma a inteligência emocional atua no desempenho profissional?

GOLEMAN – Para performances profissionais, a competência da inteligência emocional deve ser utilizada desde o início da carreira. Muitos indícios atestam que as pessoas emocionalmente competentes – que conhecem e lidam bem com os próprios sentimentos e com o de outras pessoas – levam vantagem em qualquer campo da vida, assimilando as regras tácitas que governam o sucesso na política organizacional. As pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais probabilidade de sentirem-se satisfeitas e serem eficientes, dominando os hábitos mentais que formentam sua produtividade. As que não conseguem exercer controle sobre a vida emocional travam batalhas internas que sabotam sua capacidade de se concentrar no trabalho e pensar com clareza.

SER HUMANO – Um gestor de Recursos Humanos, que lida diretamente com pessoas, pode utilizar-se da sua própria inteligência emocional para desenvolver outros indivíduos?

GOLEMAN – Ao contrário dos testes conhecidos de QI, não há ainda nenhum questionário eficiente que produza uma contagem de inteligência emocional e talvez jamais venha a haver. Por isso, os profissionais de Recursos Humanos devem usar sua própria inteligência emocional para realizar bem seus trabalhos.

SER HUMANO – A valorização da inteligência emocional, enquanto diferencial competitivo, pode ser um contraponto à febre da Reengenharia que assolou a maioria das empresas no mundo?

GOLEMAN – Em termos de Reengenharia, que devastou moralmente algumas empresas como a AT&T americana, desenvolver a inteligência emocional a partir dos destroços é mais importante do que reconstruir a confiança, lealdade e harmonia dentro do ambiente de trabalho.

SER HUMANO – De que maneira a inteligência emocional pode auxiliar na formação de equipes sinérgicas?

GOLEMAN – O que faz uma equipe ser sincronizada é a harmonia entre os próprios membros. Tarefas como escutar, cooperar, negociar e trabalhar positivamente são cruciais para alcançar sinergia. A inteligência emocional enfatiza a contribuição dos melhores talentos de cada membro da equipe para alcançar os resultados esperados.

SER HUMANO – Quais as diferenças comportamentais básicas entre um indivíduo que tem alto QI e outro de elevado QE?

GOLEMAN – Pessoas com QI alto, mas modesto ou baixo QE, tendem a ser altamente efetivas em domínios racionais, mas em suas próprias vidas e na vida social são insensíveis, arrogantes e inaptos em seus relacionamentos. Pessoas com alto QE, mas QI regular, tendem a ser leais e confiáveis, com integridade e empatia, persistentes, conscientes e queridas pelas pessoas. O melhor seria ter QE e QI altos. Jack Block, psicólogo na Universidade da Califórnia, fez uma comparação de dois tipos teóricos puros: pessoas de alto QI e pessoas de altas aptidões emocionais. As diferenças são bastante reveladoras e os perfis diferem ligeiramente para homens e mulheres.

SER HUMANO – Qual o perfil de um homem com alto QI e um com alto QE?

GOLEMAN – O homem de alto QI é ambicioso e produtivo, previsível, inibido e pouco à vontade com a sua sexualidade, ou seja, emocionalmente frio. Em contraste, os homens de alta inteligência emocional são socialmente equilibrados, comunicativos e animados, não alimentam receios ou preocupações. Têm uma notável capacidade de assumir responsabilidades e ter uma visão ética; são solidários e atenciosos em seus relacionamentos.

SER HUMANO – Quais as características de mulheres com QI elevado e inteligência emocional altamente desenvolvida?

GOLEMAN – As mulheres de alto QI são fluentes na expressão de suas idéias, valorizam o intelecto e o senso estético, mas tendem a ser introspectivas, inclinadas à ansiedade e à culpa, e raramente têm explosões de raiva. São comedidas nesse aspecto. As mulheres emocionalmente inteligentes, ao contrário, sentem-se positivas em relação a si mesmas. Como os homens, são comunicativas e gregárias; adaptam-se bem à tensão. Sentem-se suficientemente à vontade consigo mesmas para serem espontâneas e raramente sentem ansiedade ou culpa. É óbvio que esses perfis são extremos, pois todos os indivíduos possuem QI e inteligência emocional em graus variados.

SER HUMANO – Como essas diferenças influem nas ações de um líder, por exemplo?

GOLEMAN – A chave para a liderança está nos domínios da QE, não do QI. Liderança requer habilidades para persuadir e inspirar, enfatizar e articular sentimentos.

SER HUMANO – Sem querer buscar fórmulas prontas, uma empresa que procura um profissional com perfil competitivo e voltado para o sucesso, como exige o mercado atual, deve observar quais características ao fazer a seleção?

GOLEMAN – Em seleções de profissionais que serão altamente exigidos em seus cargos e funções, as pessoas responsáveis devem, antes de tudo, ter a certeza de que os selecionadores possuem esperado nível de QE para lidar com a complexidade da função. A partir daí, é possível reconhecer aspectos bem desenvolvidos da inteligência emocional.

SER HUMANO – Quais são esses aspectos?

GOLEMAN – Esses aspectos integram a definição básica de inteligência emocional, expandindo aptidões em cinco domínios principais. O primeiro é conhecer as próprias aptidões, isto é, ter autoconsciência para reconhecer um sentimento quando ele ocorre. A capacidade de controlar os sentimentos a cada momento é crucial para o discernimento emocional e a autocompreensão. Consequentemente, o segundo aspecto é saber lidar com esses sentimentos e desenvolver a capacidade de confortar-se, livrar-se da ansiedade, da tristeza ou da irritabilidade. A partir de então, é necessário saber motivar-se, colocar as emoções a serviço de uma meta. Outro ponto imprescindível é reconhecer as emoções dos outros. As pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sutís sinais sociais, com os indicativos de que os outros precisam ou o que querem. A arte de relacionar-se passa, em grande parte, pela aptidão em lidar com as emoções dos outros. É essa aptidão que reforça a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal.

SER HUMANO – Inteligência emocional e intelectual podem ser desenvolvidas simultaneamente?

GOLEMAN – O QI e a inteligência emocional não são capacidades opostas, mas distintas. Todos os seres humanos compatibilizam perspicácia intelectual e emocional. Pessoas de alto QI e baixa inteligência emocional, e vice-versa, são relativamente raras. Na verdade, há uma ligeira correlação entre intelecto e aspectos da inteligência emocional. Embora essa correlação seja bastante pequena para deixar claro que se tratam de duas capacidades bastante independentes.

SER HUMANO – Os próximos dez anos parecem reservar transformações mais velozes e profundas do que as ocorridas nos últimos trinta anos, tanto nas áreas sociais, econômicas e administrativas, quanto nas culturais, comportamentais e científicas. O senhor acredita que o reconhecimento da inteligência emocional faz parte dessas revoluções ou ele será responsável por tais mudanças?

GOLEMAN – O conceito de inteligência emocional descreve as competências das pessoas que precisam lidar e se adaptar às extraordinárias mudanças que ocorrerão nas próximas décadas.

Componentes básicos, segundo Daniel Goleman e baseados em estudos de especialistas norte-americanos:

Autoconsciência : observar-se e reconhecer os próprios sentimentos; formar um vocabulário para os sentimentos; saber a relação entre pensamentos, sentimentos e reações.

Tomada de decisão pessoal : examinar suas ações e conhecer as consequências delas; saber se uma decisão está sendo governada por pensamento ou sentimento.

Lidar com sentimentos : monitorar a "conversa consigo mesmo" para surpreender mensagens negativas como repreensões internas; compreender o que está por trás de um sentimento; encontrar meios de lidar com medos e ansiedades, ira e tristeza.

Lidar com tensão : aprender o valor de exercícios e métodos de relaxamento.

Empatia : compreender os sentimentos e preocupações dos outros e adotar a perspectiva deles; reconhecer as diferenças no modo como as pessoas se sentem em relação a fatos e comportamentos.

Comunicações : falar efetivamente de sentimentos; tornar-se um bom ouvinte e perguntador; distinguir entre o que alguém faz ou diz e suas próprias reações ou julgamento a respeito; enviar mensagens do "Eu" em vez de culpar.

Auto-revelação : valorizar a franqueza e construir confiança num relacionamento; saber quando é seguro arriscar-se a falar de seus sentimentos.

Intuição : identificar padrões em sua vida e reações emocionais; reconhecer padrões semelhantes nos outros.

Auto-aceitação : sentir orgulho e ver-se numa luz positiva; reconhecer suas forças e fraquezas; ser capaz de rir de si mesmo.

Responsabilidade pessoal : assumir responsabilidade; reconhecer as consequências de suas decisões e ações; aceitar seus sentimentos e estados de espírito; ir até o fim nos compromissos.

Assertividade : declarar suas preocupações e sentimentos sem ira nem passividade.

Dinâmica de grupo : cooperação; saber quando e como conduzir e ser conduzido.

Solução de conflitos : saber lutar limpo com outras pessoas; adotar o modelo vencer/vencer para negociar acordos.

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